MANASLU EXPEDITION
September, 2018

No dia 10 de setembro, deixamos o vilarejo cruzando um portão e fazendo o juramento de só retornarmos novamente depois de alcançar o cume do Manaslu, 8.163 metros. Estávamos determinados e nos sentíamos fortes. Na minha opinião, esse foi o início de uma conquista inédita para o montanhismo brasileiro, já que até aquele momento ninguém no país ainda havia relatado e comprovado claramente com registro fotográfico a ascensão ao cume desta montanha.

Campo Base


Devido à avalanche, verificamos que ainda havia um pequeno risco ao lado esquerdo da passagem. Avaliamos a situação, uma consciência de estar vivo misturado com muita adrenalina veio atona, e decidimos continuar a jornada. Esta é uma daquelas típicas situações em que é preciso correr riscos e só reitera o fato de que nem tudo está sob nosso controle. Percorrer o terreno frágil da avalanche foi um desafio mental, mas que por determinação foi recompensador já que fomos os primeiros alpinistas a chegar a 6.730 metros após o acontecido. Foi um momento incrível, somente eu e meu guia naquela imensidão de neve. O local estava muito tranquilo, sem vento e o céu em um tom de azul muito claro. Sozinhos, desfrutamos da vista surpreendente dos Himalaias. Estávamos realmente orgulhosos da nossa pequena conquista. Depois de deixarmos suprimentos começamos a descer para o C2, C1 e Campo Base, onde passamos a noite.
A dificuldade de progressão com o vento ainda mais forte perto do C4, acabou por nos afastamos um pouco do caminho, o que nos fez enfrentar uma parede de gelo com uma inclinação de aproximadamente 50°, onde passamos muito tempo tentando encontrar o lugar certo para fixar a corda e subir. Foi um momento crítico: enfrentamos essa parede de gelo à 7.600 metros. Também foi nessa etapa que encontramos os três sherpas da equipe do Fix Rope Team.


Nesta etapa, comecei a sentir muito frio nos meus pés. Eu habitualmente transpiro muito e mesmo no frio, não foi diferente. Mas depois de 2h30 todo o suor começou a congelar. Estava sentindo meus dedos dos pés praticamente congelados e eu sentia grandes bolhas. Em certo momento devido ao frio não senti mais os dedos dos pés. Apesar da dor insuportável, não havia outra opção, era preciso continuar caminhando. Então, tomei a decisão de usar oxigênio. Quando eu comecei a usá-lo, Temba disse que a garrafa estava com apenas 190 bares. Normalmente, a garrafa cheia tem aproximadamente 300 barras de oxigênio, o que significa que faltavam 110 bares. Eu sabia que precisava utilizar de forma consciente. Assim, logo depois de 20 minutos meu corpo foi se recompondo e meus pés se aqueceram. Com neve sempre acima dos joelhos, os últimos 300 metros exigiram um grande desafio psicologico, foi em média duas horas de esforço para subir cerca de 100 metros. Ao se aproximar do cume parei de usar oxigênio para o caso de precisar mais tarde. Restaram penas 10 bares da capacidade.
